sexta-feira, 23 de outubro de 2009

CANTO ESCURO

A minha angústia, pertinaz rebento
filha primeira da minha covardia
concebida com o medo das perguntas
num útero infantil avesso à vida,
a minha angústia nunca será órfã,
morrerá comigo, morreremos juntas.
Pois que ligou-nos a infelicidade
numa intrincada e bem tecida teia,
onde uma é outra e outra é uma.
Nessa absurda e louca simbiose
juntas iremos até o fim.
(Provavelmente vindo de uma overdose)
E assim,
sem nenhum help, socorro, SOS,
a minha angústia, pertinaz rebento
filha dileta da minha covardia,
concebida no medo das respostas
num coração posto ao desabrigo,
a minha angústia nunca será órfã,
morreremos juntas, morrerá comigo.


Maria do Mundo.

Um comentário:

  1. Há quem diga que se não fosse a angústia, os poemas mais lindos não existiriam. Macabríssimo, com certeza, mas muito bonito. Acho sempre bonito a natureza dos contrastes, afinal, só se conhece o claro por oposição ao escuro, né. Se esta poesia for filhota de uma tristeza qualquer, que venham mais tristezas, para assim virem mais belas poesias. Muito linda. :-) Thais

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